março 2024 Variação referente ao mês homólogo
Nascimentos
03916
-28,5%
Encerramentos
00530
-52,8%
Insolvências
00162
-9,6%

Barómetro do 3º trimestre

Recuperação frágil do empreendedorismo e impasse nos encerramentos e insolvências

No final do 3º trimestre de 2021, o Barómetro da Informa D&B mostra uma recuperação frágil no empreendedorismo, com os valores gerais na criação de novas empresas naturalmente mais elevados do que em 2020, mas ainda quase 20% atrás de 2019, o último ano antes da pandemia.

Os encerramentos e insolvências revelam alguma estagnação, muito provavelmente devida às medidas de apoio do Estado às empresas. Nestes dois indicadores, quase todos os setores apresentam até 31 de setembro valores inferiores aos registados em 2019 e em 2020. A dinâmica atual destes 3 fenómenos revela diferenças substanciais quando comparada com a da crise anterior, sobretudo na evolução de insolvências e encerramentos. Nessa altura, as insolvências, que já estavam a subir desde 2008, acentuaram-se no primeiro ano do PAEF –  Programa de Assistência Económica e Financeira, o mesmo acontecendo com os encerramentos.

Os indicadores demográficos funcionam como sintomas da degradação ou recuperação da economia perante um momento crítico. Nesse sentido, interessa perceber como Portugal está a evoluir em comparação com outros países, a começar pelo nosso principal parceiro comercial, a Espanha, de quem se espera o maior crescimento europeu no PIB em 2021 e 2022 e que mostra neste momento uma vitalidade superior na dinâmica demográfica.

No primeiro ano da pandemia, em 2020, as dinâmicas foram semelhantes em ambos os países, com os nascimentos e encerramentos a descerem e as insolvências a manterem valores semelhantes aos de 2019. Mas em 2021, enquanto Portugal regista uma menor atividade nos três indicadores, a Espanha já descolou completamente dos valores de 2020, com crescimentos significativos na criação de novas empresas – que supera em 15% os valores de 2019 -, bem como nos encerramentos e insolvências, demonstrando assim uma maior dinâmica na renovação do tecido empresarial.

Os efeitos da pandemia que estão à vista na dinâmica empreendedora mostram alguns paralelismos com os impactos que detetámos na análise ao desempenho das empresas em 2020.

Num ano em que mais metade das empresas perderam volume de negócios face ao ano anterior, esta análise revela também a forma desigual como os setores e subsetores foram atingidos, mostrando aqueles para os quais esta crise significou um abalo significativo nas contas e aqueles que descobriram formas de crescimento e oportunidades. No entanto, mesmo nos setores mais afetados, há uma quantidade significativa de empresas que cresceram.

Ao mesmo tempo, alguns setores revelam mais dinâmica quer no empreendedorismo, quer na forma como geriram esta fase da pandemia, como é o caso de diversas empresas que pertencem à cadeia de valor das compras online, sejam os próprios retalhistas, os transportadores ou os fornecedores de plataformas digitais.

As crises trazem quase sempre momentos de renovação do tecido empresarial e de transformações na sua composição, através de setores que se fortalecem enquanto outros enfraquecem a sua representatividade. As dinâmicas do empreendedorismo são um indicador muito significativo quando procuramos perceber as movimentações do tecido empresarial, mais exatamente os caminhos que está a tentar percorrer, e em que direção se está a mover. 

Desde o início do ano e até 30 de setembro, nasceram em Portugal 30 823 novas empresas. Na sua totalidade, estes números representam um crescimento de 9,1% face ao mesmo período do ano passado, mas agosto e setembro registaram valores mais baixos que os meses homólogos de 2020. Em relação a 2019, os valores até ao fim do 3º trimestre deste ano estão ainda 18,9% abaixo.

Setores mostram dinâmicas diferentes no empreendedorismo

Em termos agregados, a quase totalidade dos setores recuperaram em 2021 face ao período homólogo de 2020, mas a sua maioria continua a níveis inferiores a 2019.

Apenas 3 setores apresentam registos acima ou muito próximos de 2019, nomeadamente as Atividades imobiliárias (+2,5%), Agricultura e outros recursos naturais (+1,1%) e as Tecnologias de informação e comunicação (-0,4%). Por outro lado, os Transportes (-59%), Alojamento e restauração (-31%) e Serviços gerais (-30%) são os setores que mostram ainda uma maior distância face aos valores de 2019.

As empresas criadas em 2021 no subsetor da ‘Compra e venda’ das Atividades imobiliárias e em dois subsetores do Retalho já ultrapassam em mais de uma centena as empresas criadas em 2019. No caso do Retalho, os maiores destaques vão para o ‘Retalho generalista’ e para o ‘Comércio a retalho por correspondência ou via internet’ (incluído subsetor ‘Retalho – outros’), que mostra um crescimento de 70% de constituições face ao mesmo período em 2019, correspondendo a mais 208 empresas.

Nos Transportes, no subsetor da distribuição (com grande contribuição das entregas postais e de courier) foram criadas 190 novas empresas em 2021, mais 30 do que em 2019.

Fruto do empreendedorismo nestas atividades, estes setores representam agora mais de 20% da totalidade das novas empresas, quando em 2019 só representavam 16%.

Transportes terrestres, saúde e bem-estar, educação e cultura, turismo e alojamento e restauração são as atividades mais penalizadas

Entre atividades com uma dinâmica mais aquém de 2019, o subsetor dos ‘Transportes terrestres’ é o que mais contribui para a descida na constituição de novas empresas, com menos 1942 novas empresas do que em 2019, fruto da grande queda do subsetor ‘Transporte ocasional de passageiros em veículos ligeiros’.

No setor dos Serviços gerais, a maior queda em novas empresas face a 2019 está no subsetor da ‘Saúde, desporto e bem-estar’ com menos 853 empresas (-27%) com a contribuição das descidas nas constituições de atividades médicas em ambulatório, dentistas, cabeleireiros, institutos de beleza e ginásios. Igualmente penalizados estão os subsetores de ‘Educação e cultura’ e ‘Serviços turísticos’, com menos 384 (-30%) e 349 empresas (-57%) respetivamente.

No Alojamento e restauração, os subsetores da Restauração e do Alojamento de curta duração contribuíram em conjunto para uma redução de mais de 800 novas empresas.

Em 2021, estes setores perderam peso na constituição de novas empresas face a 2019, passando de 45% para 39% das empresas criadas.

Encerramentos e Insolvências com pouca atividade

Os encerramentos e as insolvências mantêm-se com pouca atividade, registando valores inferiores a 2019, sobretudo devido às medidas de apoio que o Estado português colocou à disposição das empresas.

Encerraram até 30 de setembro deste ano 8 663 empresas, menos 5,3% que no período homólogo e menos 21% do que em 2019. A esmagadora maioria dos setores de atividade encontra-se a níveis inferiores a 2019, com a exceção das Atividades Imobiliárias (+1,4%, +8 casos) e Transportes (+14%, + 49 casos).

Nos primeiros 9 meses de 2021, 1 521 empresas iniciaram um processo de insolvência, valor que representa uma descida de 14,4% face a 2020 (menos 255 processos) e de 8,2% (menos 135 casos) do que em 2019. A esmagadora maioria dos setores de atividade encontra-se a níveis inferiores a 2019, com a exceção do Alojamento e Restauração (+82 casos), Serviços Gerais (+36 casos), Retalho (+5 casos) e Energias e Ambiente (+3 casos).

Ainda na comparação com 2019, é de destacar que o setor que normalmente apresenta mais insolvências, a Indústria, foi aquele que registou a maior descida, com menos 155 processos entre janeiro e setembro deste ano, com o subsetor da ‘Indústria de têxtil e moda’ a contribuir significativamente para esta descida.

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